Ajuste de Contas

Qualquer pessoa que, ao sair da sessão de cinema, quiser correr o risco de afirmar que este AJUSTE DE CONTAS não é apenas uma comédia sobre o universo das lutas, poderá achar apoio para isso em vários momentos da projeção. Isso porque o longa, sob a direção de Peter Seagel (Como se Fosse a Primeira Vez; Agente 86), embora explore a rivalidade entre Henry “Razor” Sharp (Silvester Stallone) e Billy “The Kid” McDonnen (Robert De Niro), parece estar mais interessado em contar a história e os dramas por trás da “luta que nunca houve”. 

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Como boxeadores profissionais, os protagonistas enfrentaram-se por duas vezes nos ringues em 1983 garantindo, assim, uma vitória para cada um deles. Os promotores já haviam anunciado a revanche de Kid, nocauteado na última luta, e o país inteiro aguardava o embate que definiria qual deles seria o melhor lutador. Às vésperas do confronto, Razor surpreende a todos anunciando sua aposentadoria, frustrando milhares de torcedores e deixando seu adversário furioso. Desde então, a rivalidade entre os dois extrapolou as cordas do boxe e estendeu-se de tal forma para âmbito pessoal que os pugilistas não têm nenhum contato entre si, aliás, sequer se falam.

Agora, depois de tantas águas passadas, o filho do antigo empresário das lutas, Dante Slate Jr (Kevin Hart), inspirado por um documentário de TV sobre antigas rivalidades, aparece com a proposta de reunir os já idosos lutadores num game para Xbox. Se a ideia já não soaria suficientemente divertida, o roteiro, assinado por Tim Kelleher e Rodney Rothman, lança os personagens em situações tão absurdas que conseguem não apenas arrancar o sorriso dos expectadores em boa parte da projeção, mas conduzi-los à tão esperada revanche. É aí, então, que o filme assume o tom que conduzirá a história.

Quando as notícias sobre a luta começam a se espalhar, velhos dilemas surgem do passado. Gradualmente, tanto as motivações da aposentadoria precoce de Razor quanto a sua rixa com Kid vão ganhando novos contornos, trazendo à tona revelações e personagens que os obrigam ao tal ajuste de contas que intitula a obra, mas que, percebe-se, tem mais a ver com as atitudes que conduziram suas vidas do que com a luta propriamente dita. De um lado, o bon vivant Kid precisa aprender a lidar com a realidade de ser pai de BJ (Jon Bernthal), um filho já adulto com quem não teve nenhum contato. Por sua vez, Razor precisa abandonar sua (quase) autoclausura para encarar seu antigo amor, Sally (Kim Basinger).

Assim, ambos enfrentam seus demônios e, na jornada rumo à redenção, conseguem conquistar torcedores que já não mais se importam em descobrir qual deles é o melhor, mas sim em que consigam superar seus erros e tornarem-se pessoas melhores.

Ajuste de Contas é um filme que aposta numa estrutura clássica e que consegue divertir enquanto conta uma história interessante, mas que não se limita em oferecer o óbvio. Além de uma boa história bem contada, os realizadores conseguem homenagear outros clássicos do gênero, especialmente “Rocky, Um Lutador”, e brincar com os clichês que consagraram o antigo personagem de Stalone – o que combina com a atual fase do ator, que vem investindo em sequências para seus antigos blockbusters.

Leigômetro: ★★★★☆ 

Ficha Técnica
Ajuste de Contas (Grudge Match, 2014)
Direção: Peter Seagel
Roteiro: Tim Kelleher, Rodney Rothman
Elenco: Silvester Stallone, Robert De Niro, Alan Arkin, Kevin Hart, Jon Bernthal, Kim Basinger

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