A nova versão de Os Miseráveis é musical até a medula. Quase tudo é cantado, inclusive a maior parte dos diálogos. Para quem não gosta do gênero, pode ser uma tortura assistí-lo. Para os amantes, por outro lado, o novo trabalho de Tom Hooper, apesar de alguns delizes, é uma ópera cinematográfica.
Ainda que, diferentemente do longa de 1998 (com Liam Neeson, Geoffrey Rush e Uma Thurman), não seja adaptado diretamente do livro de Victor Hugo, mas do musical da Brodway, a história é a mesma. Jean Valjean (Hugh Jackman) é um pobre coitado que passou 19 anos na prisão por ter roubado um pão. Após ser libertado, ele resolve fugir da condicional e assumir outra identidade, já que, marcado como ex-prisioneiro, viveria eternamente marginalizado: sem emprego ou oportunidades. A partir daí o protagonista é perseguido pelo implacável inspetor Javert (Russel Crowe) enquanto tem sua vida cruzada com a da pobre Fantine (Anne Hathaway).
Optando por uma intensa carga dramática em toda a projeção, o diretor acaba por cair, em alguns momentos, no melodrama. Sempre abusando de closes, Hooper aposta acertadamente no trabalho de seu elenco, mas acaba deixando de lado o trabalho corporal dos atores e alguns elementos importantes da linguagem cinematográfica. Em particular, a bela direção de arte que é pouco explorada. Os escassos momentos em que o cineasta decide por um plano mais aberto, acaba abusando de efeitos visuais que resultam numa desnecessária artificialização da obra, como na cena de abertura e quando Javert está por tomar sua decisão mais importante.
Se Hooper comete alguns erros, o mesmo não se pode dizer do elenco. Hugh Jackman mostra que sabe cantar e atuar ao mesmo tempo, imprimindo força e carisma em seu Valjean. Já Anne Hathaway é responsável pelo melhor número musical com a famosa e emocionante I Dreamed a Dream (e aqui confesso que quase verti uma lágrima com sua performance). Por outro lado, apesar de emprestar sua habitual imponência ao duro inspetor Javert, Russel Crowe é prejudicado nas cenas em que é obrigado a cantar. O que é mais um problema de direção por não reconhecer a limitação do ator. Já Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, responsáveis pelo alívio cômico da narrativa, destoam completamente do tom “pesado” que permeia o longa e mais parecem dois personagens de Tim Burton perdidos no triste universo que o diretor propõe.
Mesmo com alguns tropeços que acabam comprometendo o conjunto da obra, graças a força de seu elenco e ao poder de suas canções, Os Miseráveis consegue emocionar. Destaque para as re-interpretações de uma mesma canção em três momentos distintos. Não é uma obra prima, mas está longe de ser miserável (perdão, eu não resisti).
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Ficha Técnica
Os Miseráveis (Les Misérables, 2012)
Direção: Tom Hooper
Roteiro: William Nicholson
Elenco: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Eddie Redmayne, Aaron Tveit, Samantha Barks, Daniel Huttlestone
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