A Pele Que Habito: controverso e impecável

Pedro Almodóvar é um desses cineastas ditos autorais. Seus filmes, goste ou não, são bem característicos e facilmente reconhecidos. Seja pela temática, fotografia ou trilha sonora. Dito isto, A Pele que Habito é um autêntico Almodóvar. Não só pelas características citadas acima, mas também, e principalmente, por se tratar de uma obra prima cinematógráfica.

O roteiro, também do diretor, acompanha um cirurgião plástico que, após a morte de sua esposa, fica obcecado pelo desenvolvimento de uma pele mais resistente e utiliza de meios nada éticos no processo. Almodóvar utiliza essa premissa para fazer uma análise sobre sexualidade (tema recorrente na filmografia do autor), individualidade (o que nos define como indivíduo?) e a obsessão humana. Nessa empreitada, o longa poderá desagradar alguns espectadores desavisados, pois é forte e corajoso, uma vez que o cineasta não faz concessão na montagem de sua obra. No entanto, é importante ressaltar que nada é gratuito e, artisticamente, tudo se justifica.

Apesar de forte e um tanto indigesto, o filme é, tecnicamente belíssimo. A direção de arte, mesmo mais comedida que o habitual, apresenta as características cores fortes – em particular, o vermelho. E está repleta de elementos que aos poucos vão ganhando significado, seja explícita (as inscrições na parede) ou implicitamente (o quadro disforme presente no quarto do personagem Robert).

O que falar então das fortes atuações de Banderas e Anaya (essa, utilizando em vários momentos apenas o olhar para transmitir o que sua personagem sente)? E a sensacional montagem que, entrecortando algumas sequências do passado com uma única cena envolvendo os protagonistas no presente, culmina numa fusão de imagens belíssima, graças ao seu significado, só explicado mais tarde.

Controverso e impecável, A Pele que Habito é uma obra corajosa que deixa o publico refletindo por várias horas após o fim da projeção. A propósito, a cena final ainda nos presenteia com uma bizarra ironia digna de Almodóvar.

Leigômetro: ★★★★★ 

Ficha Técnica
A Pele que Habito (La Piel que Habito, 2011)
Direção: Pedro Almodóvar
Com: Antônio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet

Comentários

2 respostas para “A Pele Que Habito: controverso e impecável”

  1. Gabriela Piñeiro

    Muito bom, Bruno! O seu olhar leigo é melhor do que os olhares de muitos que se dizem críticos profissionais. E Almodóvar, volta a nos incomodar em grande estilo. Depois de Fale com Ela de 2002, sem dúvida, A Pele que Habito me trouxe de novo as maiores sensações que pude experimentar ao assistir um autêntico Almodóvar. O ápice!

  2. Bruno Zé

    Valeu pelo elogio Gabi! Também concordo sobre Almódovar voltar a nos incomodar. Na verdade ele é mestre nisso. O engraçado é como ele alterna tão bem entre a comédia e o drama passando pelo suspense e romance. Enfim, um mestre! Ainda não vi Abraços Partidos que disseram ser o mais fraco desde Carne Trêmula (esse, por sinal, um FILMAÇO). Já viu? Depois de ver Melancolia, comenta lá no post do filme também. Abs.

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