Pedro Almodóvar é um desses cineastas ditos autorais. Seus filmes, goste ou não, são bem característicos e facilmente reconhecidos. Seja pela temática, fotografia ou trilha sonora. Dito isto, A Pele que Habito é um autêntico Almodóvar. Não só pelas características citadas acima, mas também, e principalmente, por se tratar de uma obra prima cinematógráfica.
O roteiro, também do diretor, acompanha um cirurgião plástico que, após a morte de sua esposa, fica obcecado pelo desenvolvimento de uma pele mais resistente e utiliza de meios nada éticos no processo. Almodóvar utiliza essa premissa para fazer uma análise sobre sexualidade (tema recorrente na filmografia do autor), individualidade (o que nos define como indivíduo?) e a obsessão humana. Nessa empreitada, o longa poderá desagradar alguns espectadores desavisados, pois é forte e corajoso, uma vez que o cineasta não faz concessão na montagem de sua obra. No entanto, é importante ressaltar que nada é gratuito e, artisticamente, tudo se justifica.
Apesar de forte e um tanto indigesto, o filme é, tecnicamente belíssimo. A direção de arte, mesmo mais comedida que o habitual, apresenta as características cores fortes – em particular, o vermelho. E está repleta de elementos que aos poucos vão ganhando significado, seja explícita (as inscrições na parede) ou implicitamente (o quadro disforme presente no quarto do personagem Robert).
O que falar então das fortes atuações de Banderas e Anaya (essa, utilizando em vários momentos apenas o olhar para transmitir o que sua personagem sente)? E a sensacional montagem que, entrecortando algumas sequências do passado com uma única cena envolvendo os protagonistas no presente, culmina numa fusão de imagens belíssima, graças ao seu significado, só explicado mais tarde.
Controverso e impecável, A Pele que Habito é uma obra corajosa que deixa o publico refletindo por várias horas após o fim da projeção. A propósito, a cena final ainda nos presenteia com uma bizarra ironia digna de Almodóvar.
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Ficha Técnica
A Pele que Habito (La Piel que Habito, 2011)
Direção: Pedro Almodóvar
Com: Antônio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet
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