Em 2007, o cineasta José Padilha tomou o Brasil de assalto com Tropa de Elite, um retrato violento e contundente da sociedade brasileira que transformou um policial truculento em ícone da cultura pop nacional. Após grande sucesso nas bilheterias (mesmo tendo vazado no mercado ilegal antes de sua estréia oficial), seguindo o modelo americano de cinema, começaram a pipocar notícias sobre uma possível continuação (até foi cogitada uma série de TV). Foi preciso esperar três anos para Tropa de Elite 2 aportar nos cinemas brazukas. A missão de Padilha, Wagner Moura e companhia era difícil: igualar ou superar o sucesso do primeiro filme. Acontece que com o Cap. Nascimento, missão dada… é missão cumprida.
A história de Tropa de Elite 2 se passa entre doze e dezesseis anos depois do primeiro longa. Nascimento tornou-se Coronel, divorciou-se – sendo que sua ex-mulher se casou com um ativista político com quem o policial não mantém um bom relacionamento -, tem um filho adolescente e, após uma rebelião ocorrida em Bangu 1, acaba sendo nomeado sub-secretário de inteligência do estado do Rio de Janeiro. Aos poucos o novo sub-secretário vai descobrindo como usar a máquina do governo no combate ao tráfico. Acontece que suas boas intenções terminam por substituir os traficantes pelas milícias, que passam a operar fortemente nas comunidades “limpas” (qualquer semelhança com alguma notícia relatada nos telejornais é mera coincidência). Só então, Nascimento se dá conta de que seu verdadeiro inimigo é muito mais forte e difícil de ser vencido: os políticos ligados aos grupos paramilitares.
Logo no início da projeção, Nascimento fala que tentou sair do BOPE, mas, mesmo tendo preparado Mathias para substituí-lo, não só não conseguiu como passou a comandar o batalhão. A caracterização do protagonista é um dos pontos altos da obra. Desde a interpretação irretocável de Wagner Moura aos pequenos detalhes como olheiras e cabelos grisalhos, podemos sentir o desgaste físico e emocional do personagem. Importante ressaltar o belo trabalho dos atores coadjuvantes. Destaque para André Ramiro, na pele do “ingênuo” Mathias e o eficiente alívio cômico Milhem Cortaz como o corrupto oficial Fábio.
A melhoria nos quesitos técnicos das cenas de ação – das tomadas aéreas aos efeitos sonoros dos tiros, passando pelo impecável trabalho dos figurantes – e dos efeitos visuais transparecem na tela (nomes envolvidos com grandes produções hollywoodianas como Transformers e O Curioso Caso de Benjamim Button foram importados para a equipe) e não devem nada a qualquer blockbuster americano.
Mas é no brilhante roteiro escrito por Padilha e Bráulio Mantovani que reside a maior força do filme. Havia certo receio (pelo menos de minha parte) quanto à existência de uma história relevante para uma continuação. Acontece que o receio foi superado com uma mudança de perspectiva em relação à corrupção no Brasil. Se antes tínhamos uma visão micro, analisando a devassidão dentro da polícia, agora temos uma visão macro da mesma corrupção, acompanhando Nascimento no combate à sujeira no meio político.
Um fato interessante e pessoal ao assistir o filme é a alternância de emoções ao longo da projeção. Se inicialmente me vi entusiasmado e empolgado por revisitar o marcante (anti) herói vivido por Wagner Moura, pouco a pouco me sentia nauseado com a podridão apresentada – e não estou me referindo as gráficas cenas de violência que a produção possui -, para, por fim, me encontrar deprimido e num estado de total falta de esperança (principalmente por saber que, infelizmente, a arte era, ali, um reflexo de nossa atual sociedade). Sem esperança pelo simples fato de não vislumbrar uma saída para a triste e revoltante situação da política brasileira.
Com um roteiro inteligente e com uma contundência crítica pouco vista no cinema nacional, Padilha nos presenteia com uma obra cruel, reflexiva e pungente.
Leigômetro:
Ficha Técnica
Tropa de Elite 2 (2010)
De: José Padilha
Com: Wagner Moura, André Ramiro, Pedro Van Held, Irandhir Santos, Maria Ribeiro, Seu Jorge, Milhem Cortaz, Tainá Müller
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