Drama ambientado na Alemanha nazista, A Menina que Roubava Livros pode ser definido como uma grande crônica sobre uma garota tentando sobreviver nesse ambiente hostil. A repressão, sua paixão pela leitura e o amparo a um judeu são apenas algumas das faces tratadas aqui.
O primeiro fator que salta aos olhos neste filme é a eficiente atmosfera criada. Notamos a tristeza que os personagens carregam já pelo figurino. Roupas pesadas e de cores sombrias, lúgubres. Os dias são quase sempre cinzas e cobertos de neve, passando angústia até. E ainda há uma sensação de estarem sempre vigiados pela onipresença das bandeiras cor de sangue.
Percebe-se logo que o intuito é mostrar a vida pungente dos alemães comuns, frequentemente colocada de lado nos retratos cinematográficos. Somos levados por um narrador que parece observar de certa distância os acontecimentos. Aqui há uma fragilidade do roteiro. Por acompanharmos a história de Liesel, a menina do título, o desenrolar do longa acaba se mostrando infanto-juvenil – a cena do menino pintado de preto é um bom exemplo. A linguagem do filme, que esperávamos de uma determinada forma (porque este tinha se apresentado assim), acaba se tornando completamente diferente, causando uma certa confusão. Além de deixar o narrador ainda mais desnecessário.
A obra consegue sensibilizar o espectador, o que é um grande mérito. Mas ao deixar-se notar os métodos que emprega, acaba deixando o sentimento menos intenso. A ótima trilha sonora do mestre John Williams é um deles. Além disso, o roteiro vale-se de uma série de encontros e reencontros para deixar marcado um teor de emoção recorrente.
Ainda sobre o roteiro, mas, confesso, numa visão extremamente pessoal, senti falta de mais ênfase dos livros do título num contraponto da repressão intelectual da época.
A pequena atriz Sophie Nélisse faz um trabalho razoável e, apesar da pouca experiência, consegue segurar as pontas de um papel tão grande. Emily Watson tem também uma boa atuação e consegue imprimir um toque de humanidade em um personagem tão clichê quanto o seu. Mas é Geoffrey Rush que chama atenção. Numa única cena, em que seu personagem debulha-se em lágrimas, consegue cortar o mais duro dos corações.
Porém há uma pequena tolice na produção que se torna um pecado imenso por toda a projeção: a decisão de retratar alemães falando em inglês com forte sotaque alemão. Veja, passar-se na Alemanha e ser falado em inglês não é problema. Estamos acostumados a ver tantas produções americanas ambientadas em tantos cantos do mundo que já é transparente, na verdade. O que não faz sentido é o sotaque. Parece que estamos vendo uma novela da Globo em que os italianos falam em português com sotaque até entre eles.
E não é só isso. A confusão com a língua continua. Muitas expressões e até frases inteiras em alemão são ouvidas. Num dado momento Liesel, aprendendo a ler, olha para um letreiro escrito na língua germânica e pronuncia em inglês. Depois, quando vai anotar as palavras no seu dicionário, o faz em inglês.
Apesar de o tema central aqui ser tão forte e comovente que desperta o lado sentimental de cada um, as falhas apontadas acabam por atrapalhar a narrativa. A Menina que Roubava Livros é apenas mais um drama ambientado na Alemanha nazista.
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Ficha Técnica
A Menina que Roubava Livros (The Book Thief, 2013)
Direção: Brian Percival
Roteiro: Markus Zusak, Michael Petroni
Elenco: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson, Nico Liersch, Ben Schnetzer
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