Gravidade

Baseando-se numa premissa bastante simples, Alfonso Cuarón constrói este belíssimo ensaio de ciência, terror e solidão. Matt Kowalski e Ryan Stone são dois astronautas numa missão rotineira. Mas um acidente acontece e destrói sua nave, deixando-os à deriva no espaço.

Gravidade

Depois do excelente Filhos da Esperança, o diretor mexicano traz mais uma ficção científica. Mas se o gênero é o mesmo, o tema muda radicalmente. Enquanto em Filhos da Esperança é apresentada uma preocupação com questões da humanidade, em Gravidade o que está em destaque é o indivíduo.

Em noventa minutos de projeção, é fascinante notar o crescimento da protagonista Ryan. De analítica e apavorada para esperançosa e corajosa. Comportamento este que ela toma do companheiro Kowalski. A diferença entre os dois é tão grande que em certo momento vemos Ryan com um uniforme diferente de Kowalski. Ela veste um muito mais escuro, representando sua própria personalidade. Na mesma cena, ao chegar no lugar onde Ryan está, a primeira coisa que Kowalski faz é ligar as luzes, iluminando o local. Também um símbolo do efeito que seu caráter traz.

Além disso, o filme tenta incrustar aspectos não óbvios naqueles personagens. Por serem astronautas, podemos pensar que são criaturas racionais e sintéticas. Mas uma fé em encontrar vida após a morte ou ícones religiosos nos fazem perceber que são na verdade tipos muito mais complexos do que imaginávamos.

Para sustentar este roteiro, atuações sólidas são muito bem vindas. Sandra Bullock sai um pouco da sua aura de atriz divertida e romântica para entregar um trabalho competente em outro espectro. George Clooney consegue, por muitas vezes apenas com a voz, trazer o elemento reconfortante que é necessário ao momento.

Os efeitos visuais são extraordinários, porém não servem apenas como exercício de técnica, mas como linguagem, para contar melhor a história. O planeta Terra em cima, em posição invertida ao homem, os passeios pelo espaço, o nascer do sol, a aurora boreal em contraste com a destruição da nave são exemplos. Mas o momento mais belo talvez seja quando Ryan entra na estação e, flutuando, lentamente livra-se do que a sufoca e entra em posição fetal, com cabos compondo uma espécie de cordão umbilical.

Usando uma história extremamente simples, Gravidade nos proporciona uma experiência sensorial única. E Cuarón estabelece-se como uma referência em ficção científica.

Leigômetro: ★★★★★ 

Ficha Técnica
Gravidade (Gravity, 2013)
Direção: Alfonso Cuarón
Roteiro: Alfonso Cuarón, Jonás Cuarón
Elenco: Sandra Bullock, George Clooney, Ed Harris

Comentários

Uma resposta para “Gravidade”

  1. Filmaço! Minimalista e sublime! Como diz o texto, uma experiência sensorial única! É de um apuro técnico tão espetacular, que chega a ser chocante ser tão carregado de conteúdo e significados. Acho que desde Matrix que via efeitos visuais tão belos e puramente utilizados para apoiar a narrativa. O uso do som é soberbo. Cuarón vai quase ao extremo no uso do “menos é mais”. Só escorregou numa pequeno momento onde se utilizou de um preguiçoso recurso sonoro tão visto em filmes de suspense genéricos. Mas em nada tira o brilho deste que é sem dúvida o melhor filme de 2013 e o melhor filme em 3D já feito. Em tempos de tramas cheias de reviravoltas, roteiros intrincados, etc… É de se admirar um filme tão minimalista conseguir cativar como Gravidade consegue. De grudar na poltrona. Recomendadíssimo!

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