O diretor e roteirista Neill Blomkamp demonstra um discurso muito preocupado com as questões sociais. Em Distrito 9, seu longa de estréia, os extra-terrestres são confinados em guetos e tratados com medo e desprezo, numa clara comparação com as comunidades da periferia. Em Elysium a favela continua presente, a diferença é que todo o planeta é uma.
Situado na cidade de Los Angeles num futuro distópico, Elysium é o nome de uma grande espaçonave que foi construída para que os mais abastados se distanciassem do caos que virou a Terra. Essa colônia espacial é dotada de grande tecnologia, como câmaras que curam, robôs serviçais e até mesmo uma atmosfera. Mas, como não poderia deixar de ser, também tem um ditador e rebeldes que tentam penetrar naquela utopia distante.
Dentro desse contexto surge Max, uma pessoa normal que vive na Terra. Max já teve muitos problemas com a lei no passado e agora tenta ajustar-se. Mas um infeliz acontecimento o faz ser mais um a querer entrar em Elysium para buscar uma cura.
É importante notar de que maneira o diretor sulafricano retrata os dois cenários. Na estação espacial o ambiente é etéreo, quase um sonho, com suas cores vivas e pessoas quase flutuando. Na Terra, como citado, tudo é uma imensa favela. Barracos, poeira e uma paleta de cores mais abatida.
No futuro aqui apresentado, um detalhe chama a atenção: as línguas faladas. Numa referência a uma inevitável quebra de barreiras e fronteiras, uma quantidade significativa do filme é falada em castelhano. Além de surgirem aqui e ali expressões em português e africâner. Mais uma vez apartando os mundos, no setor rico, além do inglês, pode-se ouvir também francês.
Não é difícil notar a alegoria com o que vivemos hoje no mundo. Em tempos de grandes protestos e manifestações populares no Brasil, isso fica ainda mais evidente. Um dos personagens é agredido por um robô policial, que justifica sua ação baseada numa política de tolerância zero. Esse mesmo personagem trabalha numa fábrica de construção de robôs, muito parecidos que os que acabaram de o atacar.
Tanta crítica social acaba por vezes desabando para o quase fantasioso. Um superior que força um trabalhador a executar tarefa perigosíssima, argumentando que há outras pessoas para fazer o trabalho. Ou uma pessoa tão má que se preocupa com a sujeira que moribundo possa fazer em cima do lençol.
Além disso, o roteiro, que tem uma ótima premissa, acaba escorregando em alguns momentos. Lá está o clichê do herói acidental, que num primeiro momento até luta para não sê-lo, por exemplo. Para mais, no último terço o filme se esvai num (bom) filme de ação.
Quanto às atuações, Matt Damon segue o seu estilo Jason Bourne consagrado. Uma pequena digressão: o ator mirim que faz o jovem Damon é extremamente parecido com este. Voltando, Alice Braga sofre num papel descartável e Wagner Moura faz uma ótima estréia em Hollywood.
Quanto aos vilões, Jodie Foster é um destaque negativo, pois, apesar de ótima atriz, acaba encarando o trabalho num piloto automático, que não nos faz ter nenhuma simpatia. Totalmente diferente do personagem de Sharlto Copley. Numa grande transformação desde Distrito 9, Copley encarna o odioso Kruger, um vilão tão vilão que tem até uma espada.
Um trabalho que une o necessário da política e o almejado da arte. Mesmo sendo uma ficção científica, Elysium conta uma história do nosso tempo.
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Ficha Técnica
Elysium (2013)
Direção: Neill Blomkamp
Roteiro: Neill Blomkamp
Elenco: Matt Damon, Jodie Foster, Sharlto Copley, Wagner Moura, Alice Braga, Diego Luna
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