A Viagem: deleite visual-narrativo

Tendo o amor e a liberdade como fios condutores de seis narrativas que se passam em épocas diferentes, que vão de 1849 à 2321, os irmãos Wachowsky, com a ajuda do alemão Tom Tykwer, redimem-se do crime cometido em Matrix Reloaded e Matrix Revolutions (Speed Racer, ainda que visualmente belo, não é mais que um passatempo) e criam mais uma deliciosa e cativante obra cinematográfica repleta de rimas visuais e narrativas.

Cloud Atlas

Adaptado do premiado romance de David Mitchell, A Viagem acompanha seis histórias diferentes que, apesar de inicialmente não parecer, se conectam e vão desde o Pacífico Sul do séc. XIX até um futuro pós-apocalíptico. O roteiro, de maneira inteligente e sutil, ilustra o impacto que ações podem gerar no futuro de pessoas totalmente desconhecidas. E se, ainda que sejam interessantes isoladamente, é o somatório de todas as histórias que torna o filme tão interessante e instigante.

Abusando de uma montagem entrecortada, o longa mantém um ritmo frenético, saltando entre as épocas num intenso vai e vem, mas ainda assim mantendo a narrativa fluida e inteligível. Com belíssimos raccords que não só embelezam como contribuem para a fluência da obra, os cineastas povoam a película com signos e significados num mar de rimas visuais.

A direção de arte é extremamente competente e fundamental para situar o espectador nas histórias. Impossível não perceber a diferença de cenários e figurinos entre a década de 70 de Los Angeles e o futuro noir distópico da neo-Seul. O mesmo vale para as outras épocas. O único deslize fica por conta da maquiagem. Como os diretores optaram por usar o mesmo elenco em todas as histórias, eles abusaram da maquiagem na caracterização do elenco. Ainda que o trabalho seja digno de nota na maior parte da projeção, em alguns momentos (todos envolvendo atores ocidentais como personagens, supostamente, coreanos, ou vice-versa) o exagero resulta numa desnecessária artificialização e quebra de toda imersão construída até então. O elenco, diga-se de passagem, é digno de aplausos, visto a constante mudança de papéis e personalidade.

É interessante como não há uma trama ou mistério central que ligue as histórias. A conexão aqui é temática. O amor e a liberdade são constantemente estampados na tela. Seja o amor entre homem e mulher, como o “amor de amigo” e o amor entre familiares. E o que falar dos ecos de liberdade que vão da trama dos “velhinhos” tentando fugir do asilo à que envolve a garçonete Sonmi. Com boas doses de filosofia e efeitos visuais espetaculares, podemos ver claramente a mão pesada – no bom sentido, claro – dos irmãos Wachowsky. O visual cyberpunk e as espetaculares cenas de ação, com lutas extremamente bem coreografadas e efeitos visuais acachapantes, remetem imediatamente a Matrix. Por outro lado, nas várias conexões entre as histórias, com ação e reação que remontam à teoria do caos, percebemos influências de Corra, Lola, Corra de Tykwer.

A Viagem é uma instigante experiência cinematográfica. Um deleite visual que, com seus jogos de pista e recompensa, divertirá aos mais atentos que perceberão vários elementos que sutilmente ligam as tramas. Um belo retorno dos irmãos Wachowsky e a confirmação de Tykwer ao panteão dos grande diretores de cinema.

Leigômetro: ★★★★☆ 

Ficha Técnica
A Viagem (Cloud Atlas, 2012)
Direção: Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski
Roteiro: Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski
Elenco: Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Doona Bae, Ben Whishaw, Keith David, James D’Arcy, Xun Zhou, David Gyasi, Brody Nicholas Lee, Susan Sarandon e Hugh Grant

Comentários

Uma resposta para “A Viagem: deleite visual-narrativo”

  1. Ramon Querubim

    Esse eu nao assisti por que me disseram que era péssimo.
    Vou procurar.

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