O longa retrata parte da vida de Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos, durante um dos períodos mais importantes e conturbados da sua história, a Guerra Civil Americana, e sua cruzada para abolir a escravidão no país.
Muitos vão pensar a mesma coisa ao ouvir falar neste filme a primeira vez: Spielberg, Daniel Day-Lewis e Abraham Lincoln? Oscar na certa. E é totalmente justificada essa primeira impressão. A vida do 16º presidente americano é cercada por emoções que o ator e o diretor têm talento de sobra para contar.
E Spielberg não economiza na emoção. A sua filmografia é recheada de clássicos que envolvem desafios hercúleos e personagens intensos. Desde o início mostrado quase sempre a partir de um ângulo baixo, Lincoln, que já era uma figura muita alta, vira um gigante na tela. Não cabia perfeitamente em sofás e cadeiras. Em certo momento, ao entrar na casa de seus funcionários lobistas, parece o mago Gandalf entrando na casa de um hobbit. A grandeza de Lincoln era metaforicamente demonstrada por seu tamanho.
Porém a sua humildade era retratada proporcionalmente. Apesar de o presidente estar sempre em posição de destaque, costumava olhar sempre para baixo, num semblante calmo e que beirava a timidez. Falava suave. Em determinada ocasião, sentado numa cadeira simples, estava longe do centro, enquanto seus importantes interlocutores em poltronas confortáveis.
É com essas duas características que o personagem-título é enaltecido no filme. Nos momentos mais esperados da projeção – os seus discursos – Lincoln cresce à medida em que a câmera se aproxima. Uma música sempre tenta embalar ainda mais a dita emoção que o diretor procura. Infelizmente, Spielberg abusa desses momentos, tornando-os repetitivos e, de certa maneira parece duvidar da inteligência do espectador, como se aquela fórmula repetida à exaustão fosse sempre funcionar. Até o fogo no final, fazendo alusão à chama de Lincoln, parece ingênua.
O longa tenta fugir de ser denso ao inserir momentos divertidos. Apesar das histórias espirituosas que Lincoln obrigava todos a ouvir e coadjuvantes engraçados, Spielberg peca pelo excesso aqui também, ao inserir situações cômicas onde não era cabido, como na corrida dos lobistas até a sua casa ou na votação indecisa de um parlamentar.
Porém o diretor é hábil em inserir símbolos. O martelo no caranguejo em justaposição com o martelo da assembléia, o fim da guerra com o presidente andando pelo meio dos soldados mortos em volta com a bandeira dos Estados Confederados, ou mesmo o único traço de sol, nos rostos dos personagens, quando uma esperança de novos tempos se apresenta, entre muitos outros.
Mas, apesar da idealização, o longa mostra momentos não tão bonitos da política. Lobby, compra de votos, corrupção. Políticos cheios de boas intenções, indicando que os fins justificam os meios.
Dizer que Daniel Day-Lewis dá espetáculo na atuação é lugar-comum impossível de fugir. Conhecido por se entregar ao interpretar, Day-Lewis deixa a atuação de lado e torna-se a sua criação. Sempre sutil e moderado, era capaz de pequenas explosões de comportamento e de exibir um cansaço que davam uma complexidade única ao protagonista.
Já Sally Field, apesar de não fazer um trabalho tão excepcional quanto o colega, aproveita seu histórico de personagens perturbados e nos entrega uma justa quase-louca primeira-dama. David Strathairn também está ótimo como secretário de Estado. Joseph Gordon-Levitt infelizmente não mostrou a que veio, talvez prejudicado por um papel irrelevante.
Com uma suposta bandeira francesa em segundo plano durante a obra, os ideais da revolução francesa de igualdade, liberdade e fraternidade vêm à cabeça. Em Lincoln vemos um lado importante da luta pela igualdade para todas as pessoas. E entendemos uma fração desta importante figura histórica.
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Ficha Técnica
Lincoln (2012)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Tony Kushner, Doris Kearns Goodwin
Elenco: Daniel Day-Lewis, Sally Field, David Strathairn, Joseph Gordon-Levitt, James Spader, Tommy Lee Jones
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