Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge: Por que, Nolan?

Há quatro anos escrevi e publiquei aqui uma crítica sobre O Cavaleiro das Trevas, longa que ainda acho superior a todos os indicados ao oscar daquele ano (não esqueçamos que Heath Ledger levou o prêmio póstumo por seu impecável Coringa). E se esse segundo filme da “nova franquia” conseguiu tal feito, a “culpa” é, em grande parte, dos personagens fortes e do universo crível e sombrio criados de forma magistral pelo diretor Cristopher Nolan no belo Batman Begins. Dito isto, é uma pena constatar que, ainda que seja um bom filme, o capítulo final da trilogia peca em aspectos cruciais e deixa um gosto amargo ao final da projeção.

Logo em sua abertura, O Cavaleiro das Trevas Ressurge nos apresenta um sequestro em pleno ar. Uma cena que faz inveja a qualquer Missão Impossível ou 007 já lançados. Nesse momento somos apresentados ao autor da ação, o vilão Bane, personagem forte e assustador vivido com vigor por Tom Hardy. Após a sequência inicial, somos levados à Gotham City e ficamos sabendo que passaram-se oito anos desde os acontecimentos do longa anterior. O Batman levou a culpa pela morte do promotor Harvey Dent e desde então nunca mais apareceu. Uma lei de caça aos criminosos foi criada em homenagem ao promotor, a criminalidade caiu a quase zero e a cidade vive em tempos de paz. Assim, quando o comissário Gordon descobre uma conspiração para destruir a cidade de Gotham, Bruce Wayne precisa voltar a usar o uniforme ddo Homem-Morcego. Nesse meio tempo, conhecemos a misteriosa Selina Kyle (a belíssima Anne Hathaway), e Bane mostra-se um adversário letal e extremamente capaz de vencer o Batman e destruir todo o seu legado.

Um aspecto positivo da obra é a fotografia que, optando por cores com tons mais frios, tiram o ar fantasioso dos filmes de heróis e aproxima a narrativa à nossa realidade. Aliás calcar a história do Batman num universo mais real é algo que Nolan buscou fazer desde Batman Begins. Isso é reforçado no design de produção, onde tanto a construção de Gotham como dos veículos do herói são muito detalhadas e sem os exageros cartunescos de Tim Burton ou os carnavalescos de Joel Schumacher. No fim das contas, a impressão que temos é de se tratar de uma guerra real numa cidade americana qualquer. O cineasta também merece aplausos por preferir efeitos práticos ao invés dos artificiais efeitos digitais que são utilizados pontualmente e sem exageros como boa parte das grandes produções hollywoodianas da atualidade.

Outro grande destaque, e talvez o principal, fica por conta dos personagens muito bem construídos. Bale encarna um Bruce Wayne desgastado pelo tempo e que carrega o peso do símbolo que o Batman se tornou para a cidade. Já Lucius Fox, Alfred e o comissário Gordon, vividos respectivamente pelos já consagrados Morgan Freeman, Michael Caine e Gary Oldman, continuam servindo de âncora e bussola moral para o alter ego do homem morcego. Michael Caine é, por sinal, responsável por uma cena tocante que merece ser ressaltada. E se nos emocionamos com a cena, é porque a relação entre seu personagem e o de Bale foi muito bem desenvolvida ao longo dos três filmes.

Quanto aos novos personagens, Selina Kyle, a mulher-gato, apesar de não acrescentar muito à trama, aparece bem nas cenas de ação e cria uma relação divertida com Bruce Wayne. Joseph Gordon-Levitt, vive o policial Blake, uma espécie de comissário Gordon jovem que acredita na luta do Batman e ganha uma importância significativa até o fim da projeção. Por outro lado, a bela Marion Cotillard é pouco aproveitada e sua Miranda Tate é dispensável nos primeiros dois atos da narrativa e é responsável por boa parte dos problemas presentes no final da trama. Falarei disso mais a frente. Mas é Bane quem rouba a cena. Com uma atuação marcante, arrisco dizer que seu trabalho está a altura do de Heath Ledger. Apenas com o olhar – pois o vilão usa uma máscara que cobre praticamente todo o seu rosto – e um uso impressionante da voz (quem assistir a versão dublada perderá 70% da magnífica construção do personagem), Tom Hardy consegue transparecer auto-confiança e sarcasmo nos momentos certos. E se o coringa era um louco imprevisível, Bane é um vilão forte – física e psicologicamente – que impõe medo em seus inimigos, inspira uma lealdade sem limites aos seus comandados (a cena de abertura nos dá prova disso) e calcula todos os seus movimentos com uma frieza assustadora. Com tudo isso, quando o personagem aparece em cena, nós tememos pela vida de qualquer personagem, inclusive a do Batman.

A épica trilha sonora de Hans Zimmer continua impecável, sempre intensificando os momentos mais emocionais do longa, sejam os de ação ou os de suspense (interessante notar dois momentos em que a trilha sonora é retirada totalmente: um diálogo entre Alfred e Bruce Wayne e uma luta importante). E é incrível como Nolan consegue conduzir ações ocorrendo em várias frentes ao mesmo tempo de maneira fluida e sem que fiquemos perdidos. O diretor também oferece algumas ótimas referências às HQ’s. Principalmente à saga do Cavaleiro das Trevas de Frank Miller e uma mais óbvia e bem executada ao arco A Queda do Morcego.

No entanto, após falar de todas as qualidades do longa, é uma pena constatar que Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge é apenas um bom filme. O problema da produção é o próprio universo criado pelo seu autor. Nolan instituiu um mundo crível e adulto para a franquia e segue à risca essa receita até o segundo ato desse filme. Mas a terceira e última parte de O Cavaleiro das Trevas Ressurge é recheada de problemas que, por pouco, não estraga o filme inteiro. E os problemas residem justamente no roteiro do mesmo. São falhas que vão de excesso de personagens à destruição de alguns deles que vinham sendo tão bem construídos, passando por uma cena com uma longa exposição, o que, geralmente, é uma falha de roteiro.

Ao optar por uma reviravolta forçada e desastrosa em seu ato final, O Cavaleiro das Trevas Ressurge consegue destruir um excelente personagem que vinha sendo moldado durante toda a projeção e parece esquecer o universo adulto e crível que criou. Sem falar a triste tentativa de criar um final tão ambíguo quanto o do excelente A Origem. Talvez se o diretor optasse por cortar alguns personagens (Miranda Tate, estou olhando para você) e abrisse mão do plot twist final, não ficássemos com o gosto amargo de uma obra que tinha tudo para ser espetacular mas no fim das contas acabou sendo apenas boa.

Leigômetro: ★★★☆☆ 

Ficha Técnica
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012)
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Jonathan Nolan, Christopher Nolan, David S. Goyer
Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Anne Hathaway, Tom Hardy, Marion Cotillard, Mathew Modine, Joseph Gordon-Levitt, Ben Mendelsohn, Nestor Carbonell, Morgan Freeman, Michael Caine

Comentários

2 respostas para “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge: Por que, Nolan?”

  1. Ramon

    O que é isso? cara, tem algo errado aí nessa crítica, assiste agora o filme com o som original e sem as cenas trocadas :P. Eu até concordo que o filme não é tão profundo como o segundo mas ele mantem a mesma proposta desde o primeiro filme. Nao vi essas falhas na terceira parte, que personagem bem construido foi destruido? Nao tem reviravolta no final, o filme é linear. Eu até entendo o carinha do MRG ter dado 2 pontos pros Vingadores, mas 3 pro Batman nao dá, inaceitável, minha vida perdeu o sentido. Aliás pelo que vc escreveu 3 estrelas sao muitas, tem filme menos criticado com menos estrela. Assim nao pode, assim nao dá. Vou pro twitter xingar. Rimei

  2. Ramon Querubim

    Esse comentário acima não é meu, ok? Ainda pretendo assistir esse filme.

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