O Artista é um daqueles filmes que te faz sair do cinema com um sorriso de orelha a orelha. Curiosamente, um dos favoritos ao Oscar desse ano, “inova” justamente ao fazer algo já “ultrapassado” na indústria cinematográfica. O longa de Michel Hazanavicius é, antes de mais nada, uma bela homenagem ao clássico e elegante cinema mudo. Mas e se no meio do caminho ele presenteia a platéia com uma obra tocante, que mal há?
O roteiro, escrito pelo próprio Hazanavicius, acompanha o galã do cinema mudo George Valentin (Dujardin num trabalho belíssimo) que, de adorado pelo público, vê na chegada do cinema falado sua derrocada enquanto que a jovem e bela Peppy Miller (vivida com um brilho especial pela linda Bérénice Bejo), após um encontro com o astro, percorre o caminho inverso rumo ao estrelato.
Confesso que nunca havia assistido a um filme mudo inteiro. Minha única “experiência” com o gênero (se é que pode ser chamado assim) são alguns recortes de filmes do Chaplin. Dito isso, fiquei curioso para acompanhar uma obra sem nenhum diálogo falado – pois há diálogos no filme – por mais de uma hora de projeção. E é sublime perceber o que o cinema é capaz de transmitir apenas com imagens em movimento e uma música de fundo. Aliás, importante salientar a importância da trilha sonora que além de belíssima é fundamental para contextualizar o espectador, oscilando entre o drama, a comédia, o suspense e o romântico.
Com uma fotografia soberba que utiliza, inclusive, o formato típico da época (a janela 1,33:1), O Artista tem sua maior força no trabalho dos atores. Dujardin e Bejo possuem uma química perfeita e conquistam o público desde a primeira cena em que se encontram. E é interessante notar o equilíbrio dos personagens na tela. Se num primeiro momento temos uma Miller mais contida e ingênua, vemos em Valentin uma contrapartida auto-confiante e cheia de vigor. Conforme a história avança, vemos uma inversão orgânica de papéis muito bem construída não só pelos atores, mas também pelo roteiro e direção. Como não notar o filme em cartaz numa cena em que Valentin encontra-se em declínio: A Estrela Solitária.
Outro aspecto digno de nota na obra é a meta-linguagem presente por toda a projeção. O Artista é cinema falando de cinema. É um filme mudo falando sobre o cinema mudo e tem em seus personagens principais a representação das duas eras. Dito isto, a cena do filme produzido por George em que o herói é engolido pela areia movediça é tocante e emblemática. E o que falar do belíssimo movimento de câmera final que dá um desfecho elegante que, não só é coerente, como sintetiza tudo o que o filme representa.
Formulaico? Pode até ser. Clichê? Depende do ponto de vista. Pois a idéia é justamente a de “recriação” de um cinema que “formulou” todos os clichês presentes no filme. E como evitar elementos clássicos do cinema mudo romântico se esta obra é prima justamente por ser uma ode ao cinema, sua história e evolução. Um típico romance que agrada em cheio os “amantes” e os “amantes do cinema”.
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Ficha Técnica
The Artist (2011)
Direção: Michel Hazanavicius
Com: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell.
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