To The Moon: excelente narrativa, jogo nem tanto

(No intuito de não estragar a experiência do jogador, esse review evitará Spoilers e conterá apenas uma sinopse da trama e se concentrará na análise de elementos técnicos.)

Fiquei sabendo da existência de To The Moon através do Dash Podcast do site Jogabilida.de. Não costumo ouvir podcasts sobre um jogo ou filme que ainda não joguei ou assisti. Mas bastou ver a primeira imagem do game para pensar: “Ah, é apenas mais um RPG Japonês. Não joguei e não vou jogar. Posso ouvir o podcast.“. Depois de ouvir alguns minutos do programa, tamanha era a paixão dos apresentadores que resolvi parar de ouvir e dar uma chance a obra. Que sorte a minha!

To The Moon é um jogo indie desenvolvido pela freebird games, tendo o game designer Kan Gao como mente criativa por trás de “tudo” (não exatamente tudo, mas… você entendeu). A trama, inspirada – segundo o próprio Kan Gao – em filmes como Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, Amnésia, Vanila Sky, passando por Up – Altas Aventuras e Wall-e, acompanha o Dr Neil Watts e a Dra. Eva Rosalene, dois cientistas prestes a realizar o último desejo de John, um homem bastante idoso nos momentos finais de sua vida: ir para a lua. Acontece que esses cientistas não construirão um foguete e lançarão seu cliente para o satélite. A Sigmund Corporation, empresa na qual eles trabalham, possui uma tecnologia semelhante a do filme A Origem e a dupla precisa entrar na mente de John para inserir o sonho de ir à lua no meio das lembranças do hospedeiro de modo que o mesmo não desista de realizá-lo, ainda que virtualmente. No entanto, para iniciar o processo, é necessário saber o motivo. Só que John não faz idéia de porque quer ir para a lua? É quando os cientistas decidem viajar nas lembranças do cliente para buscar pistas e só então concluir a missão.

Apresentando uma estética típica dos RPG’s do Super Nintendo, como Chrono Trigger e Zelda, o jogo é incrivelmente detalhado e bonito. Com efeitos de sombra convincentes e um design de personagens competente que lembra bastante os de Scott Pilgrim. Para reforçar essa estética, foi adotada uma trilha sonora composta basicamente de piano o que lembra bastante os nostálgicos chip tunes utilizados até a geração de 16 bits. Aliás, a trilha é primorosa oscilando entre momentos tensos, descontraídos e emocionalmente tocantes.

A narrativa de To The Moon é, aliada ao excelente roteiro, o ponto alto da experiência. Sua estrutura segue os moldes do filme Amnésia, com uma vantagem: enquanto Nolan utilizava a montagem picotada de trás para frente basicamente para “esconder” o todo do espectador, Kan Gao contextualiza e dá sentido a essa inversão temporal. Aliás, ao fim do jogo, tudo faz sentido. O roteiro não deixa pontas soltas e utiliza sabiamente o princípio da pertinência: todos os elementos apresentados são contextualizados e necessários.

E se a estrutura narrativa é maestral, não podemos esquecer a construção dos personagens. Com diálogos inteligentes que alternam suspense e doses exatas de humor, o texto cria uma conexão forte entre jogador e personagem o que só aumenta a imersão.

Com tantos elogios, parece tratar-se de um jogo perfeito, mas é justamente nesse quesito que a obra escorrega: no jogo. Se num primeiro instante o visual nos remete aos típicos RPG’s de 16 bits, com alguns minutos a jogabilidade mostra-se mais característica de um point-and-click. E o jogo consiste basicamente em explorar o cenário, coletar itens e resolver um simples quebra-cabeça para saltar para diferentes momentos da memória de John. É uma mecânica muito simples, de certo modo, repetitiva, não apresenta desafio algum e que não anda de mãos dadas com a trama. A jogabilidade, diferente da vista no fantástico Braid, não é integrada à narrativa. A impressão que se tem é a de estarmos apenas acompanhando uma excelente história numa mídia diferente. E, no fim das contas, o fator motivador para o jogador continuar avançando acaba sendo apenas a história.

Com uma trama tocante, bem amarrada e envolvente, To The Moon é apenas razoável enquanto jogo: acho até que, como jogo, ele falha. No entanto, se constitui numa belíssima experiência narrativa pouquíssimas vezes vista em games. Por outro lado, relativamente curto, ele beneficia-se da quase ausência de elementos desnecessário de jogabilidade – nesse sentido, é uma pena notar que uma referência ao divertido Plantas vs Zumbis constitui-se justamente num dos momentos mais fracos da experiencia – o que potencializa ainda mais a imersão do jogador.

Leigômetro: ★★★★☆ 

Ficha Técnica
To The Moon
Desenvolvido por: freebird games
Distribuido por: freebird games (digital)
Disponível para: PC

Comentários

2 respostas para “To The Moon: excelente narrativa, jogo nem tanto”

  1. Ramon

    Quanto custa?

  2. Bruno Zé

    Olá Ramon, paguei exatos R$ 22,67. Uma pizza (e olhe lá)! Se preferir, 12,89 dólares canadenses. =D

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