Muitos críticos insistem em dizer que o único filme de Shyamalan digno de nota é o inquestionável O Sexto Sentido. Eu, por outro lado, discordo e, com exceção do fraco Fim dos Tempos (e seus dois trabalhos anteriores a O Sexto Sentido, que não assisti), gosto de todos os trabalhos do diretor. Curti sua visão “realista” de um super herói amargurado no tenso Corpo Fechado, grudei na cadeira com o claustrofóbico Sinais, adorei ser enganado em A Vila e viagei com seu conto de fadas sombrio A Dama na Água. Depois de assistir O Último Mestre do Ar, a pergunta que fica é: onde foi parar aquele diretor autoral que sempre me impressionou?
Adaptação do anime Avatar (exibido pela Nickelodeon e que teve seu título mudado nas telonas graças ao blockbuster de James Cameron), o filme narra os fatos ocorridos na primeira temporada do programa. Basicamente, de acordo com o mundo fantástico do anime, algumas pessoas possuem habilidades especiais de controlar (na verdade eles falam “dobrar”) um dos quatro elementos existentes: ar, água, terra e fogo. No entanto, de tempos em tempos nasce uma pessoa que, para manter o equilíbrio, é capaz de dobrar os quatro elementos. Essa pessoa é conhecida como o Avatar.
Acontece que faz um século que o Avatar não aparece e a nação do Fogo iniciou uma guerra com o objetivo de dominar as outras tribos (do ar, água e terra). Eis que dois irmãos da tribo da água, Katara (uma dobradora) e Sokka, encontram um garoto chamado Aang – um dobrador de ar que estava congelado – e descobrem que ele é a encarnação do Avatar que havia sumido nos últimos cem anos. Para ajudá-lo a salvar o mundo e restaurar o equilíbrio na Terra, Katara e Sokka acompanharão Aang em sua jornada.
Para início de conversa, basta saber que Shyamalan pegou basicamente todo o espírito do anime cheio de otimismo e bom humor e jogou na lata de lixo. O filme tem um tom sério e sombrio que poderia remeter à eficiente franquia do bruxo Harry Potter. O problema é que o roteiro e os diálogos são muito rasos e infantis. Parece que o diretor não se decide qual público atingir e o resultado é uma mistura indecisa e ineficiente de gêneros. Ineficiente porque a película não funciona em nenhum dos gêneros que tenta adotar.
As cenas de exposição são patéticas e pra lá de forçadas. Em um dado momento, o príncipe Zuko – membro da nação de fogo que está no encalço do Avatar para capturá-lo e provar seu valor ao seu pai – chama um garoto do nada e, basicamente, pede para ele explicar o motivo de sua obsessiva caçada.
Não bastassem os vários problemas de roteiro, as cenas de ação nunca chegam a empolgar e as lutas/batalhas, apesar de bonitas e com belos e bem executados efeitos visuais, não entusiasmam e lembram as batalhas por turnos de jogos de RPG onde cada combatente deve esperar a sua vez para desferir um golpe.
Outro problema grave reside nos personagens que são mal desenvolvidos e com as fracas atuações não cativam o expectador, fazendo com que não nos importemos com seus destinos. Destaque (negativo) para o príncipe Zuko de Dev Patel (Quem quer Ser Um Milionário?) que não podia ser mais canastrão. Isso sem falar no relacionamento entre eles: diferente do anime, não há uma explicação para o apego de Katara e Sokka com Anng, que diferente da versão sempre alegre do anime, aqui aparece sempre em conflito e com zero de carisma.
É importante destacar, no entanto, as belas coreografias usadas para dobrar os elementos – principalmente as executadas por Anng. Também acredito que O Último Mestre do Ar será lembrado na festa do Oscar por seus efeitos visuais que, conforme citei, são muito bem executados.
É uma pena que um anime de tanto sucesso tenha sido adaptado de forma tão pífia. Com poucas qualidades e vários defeitos, fica a sensação de que bastava Shyamalan manter o espírito da obra original ao invés de tentar inserir sua visão sombria que resultou num produto ineficiente e descartável.
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Ficha Técnica
O Último Mestre do Ar (The Last Airbender, 2010)
De: M. Night Shyamalan
Com: Noah Ringer, Dev Patel, Nicola Peltz, Jackson Rathbone, Shaun Toub, Aasif Mandvi, Cliff Curtis, Seychelle Gabriel
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